[ivory-search id="27469" title="Default Search Form"]
[ivory-search id="27469" title="Default Search Form"]

Qual a relação entre o vírus Epstein-Barr (EBV) e a Esclerose Múltipla?

Há muito se suspeita de uma conexão entre o herpesvírus humano Epstein-Barr e a esclerose múltipla (EM), mas tem sido difícil de provar. O vírus Epstein-Barr (EBV) é a principal causa da mononucleose e é tão comum que 95% dos adultos o carregam.

Ao contrário de Epstein-Barr, a EM, uma doença desmielinizante devastadora do sistema nervoso central, é relativamente rara. Afeta 2,8 milhões de pessoas em todo o mundo. Mas as pessoas que contraem mononucleose infecciosa correm um risco ligeiramente maior de desenvolver EM. Na doença, a inflamação danifica a bainha de mielina que isola as células nervosas, interrompendo os sinais de e para o cérebro e causando uma variedade de sintomas, desde dormência e dor até paralisia.

Leia também: Protocolo clínico para tratamento da Esclerose Múltipla é lançado pelo Ministério da Saúde

Para provar que a infecção por Epstein-Barr causa EM, no entanto, um estudo de pesquisa teria que mostrar que as pessoas não desenvolveriam a doença se não fossem primeiro infectadas com o vírus. Um estudo randomizado para testar tal hipótese infectando propositadamente milhares de pessoas seria, obviamente, antiético.

Em vez disso, pesquisadores da Harvard T. H. Chan School of Public Health e da Harvard Medical School se voltaram para o que chamam de “um experimento da natureza”. Eles usaram duas décadas de amostras de sangue de mais de 10 milhões de jovens adultos no serviço militar dos EUA (as amostras foram coletadas para testes de HIV de rotina). Cerca de 5% desses indivíduos (várias centenas de milhares de pessoas) eram negativos para Epstein-Barr quando começaram o serviço militar, e 955 eventualmente desenvolveram EM. Os pesquisadores puderam comparar os resultados daqueles que foram posteriormente infectados e daqueles que não foram. Os resultados, publicados em 13 de setembro na Science, mostram que o risco de esclerose múltipla aumentou 32 vezes após a infecção por Epstein-Barr, mas não após a infecção por outros vírus. “Essas descobertas não podem ser explicadas por nenhum fator de risco conhecido para EM e sugerem o EBV como a principal causa de EM”, escreveram os pesquisadores.

Em um comentário complementar, os imunologistas William H. Robinson e Lawrence Steinman, ambos da Universidade de Stanford, escreveram: “Essas descobertas fornecem dados convincentes que implicam o EBV como o gatilho para o desenvolvimento da EM”. O epidemiologista Alberto Ascherio, autor sênior do novo estudo, diz: “O ponto principal é: se você não está infectado com EBV, não contrai EM. É raro obter resultados tão preto no branco.”

O virologista Jeffrey I. Cohen, que chefia o Laboratório de Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos Institutos Nacionais de Saúde e não esteve envolvido na pesquisa, é cauteloso ao alegar “causa”. Ele argumenta que ainda deve ser demonstrado que a prevenção de Epstein-Barr previne a EM, mas concorda que os resultados são dramáticos. “Quando os estudos originais foram feitos com tabagismo e câncer de pulmão, eles encontraram um fator de risco 25 vezes maior para pessoas que fumavam mais de 25 cigarros por dia”, diz Cohen. “Isso é ainda mais alto.”

Grande parte da população mundial, especialmente nos países em desenvolvimento, é infectada com Epstein-Barr muito cedo na vida sem muitos efeitos nocivos, embora o vírus possa levar a vários tipos de câncer raros. Todos os outros são infectados na adolescência e no início da idade adulta, quando o Epstein-Barr geralmente leva à mononucleose infecciosa, também chamada de “doença do beijo” porque é transmitida pela saliva. Após a infecção, o Epstein-Barr sobrevive em algumas células B do sistema imunológico e os anticorpos desenvolvidos para combatê-lo permanecem no sangue.

No novo estudo, que é uma expansão muito maior de uma investigação de 2010, os pesquisadores analisaram até três amostras de sangue para cada indivíduo com EM: a primeira coletada quando a maioria dos militares tinha menos de 20 anos, a última coletada anos mais tarde, antes do início da doença, e um, no meio. A equipe procurava soroconversão, ou o aparecimento de anticorpos no sangue como evidência de infecção. Cada pessoa com EM também foi pareada com dois controles selecionados aleatoriamente sem EM, que eram da mesma idade, sexo, raça ou etnia e ramo das forças armadas. Dos 955 casos de EM, eles conseguiram coletar amostras apropriadas para 801 indivíduos com a doença e 1.566 controles. Trinta e cinco das pessoas que desenvolveram EM e 107 controles testaram negativo para EBV inicialmente. Apenas uma das 801 pessoas com EM não havia sido infectada com Epstein-Barr antes do início da doença. O risco de desenvolver EM foi 32 vezes maior para aqueles que soroconverteram na terceira amostra, em comparação com aqueles que não o fizeram. Quanto ao único caso de EM em alguém que permaneceu negativo para Epstein-Barr, é possível que essa pessoa tenha sido infectada após a coleta da amostra, mas também é verdade que, em doenças clinicamente definidas por seus sintomas, como a EM, é altamente improvável que 100% dos casos sejam derivados da mesma causa, mesmo que a maioria seja, diz Ascherio.

Entenda

A Esclerose Múltipla atinge principalmente jovens e adultos entre 18 e 55 anos. A doença autoimune é caracterizada pelo dano na bainha de mielina, que envolve as células nervosas (axônios), por onde passam os impulsos elétricos que controlam as funções do organismo. Esse dano pode gerar alterações na visão, no equilíbrio e na capacidade muscular do paciente.

A EM pode ser classificada em três formas principais, de acordo com o grau de evolução, a incapacidade do paciente e a frequência dos sintomas. São elas: esclerose múltipla remitente-recorrente (EM-RR), a forma mais comum e que representa 85% de todos os casos da doença; a primariamente progressiva (EM-PP) e a secundária progressiva (EM-SP).

Vale lembrar que em dezembro de 2020, o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Esclerose Múltipla (PCDT) foi atualizado para uma nova versão. No novo documento, o medicamento natalizumabe, que antes era a quarta linha de tratamento prevista e recomendada pelo Ministério da Saúde, se tornou a terceira linha para pacientes com EM-RR intolerantes ou com histórico de falha terapêutica aos medicamentos de primeira e segunda linha.

Outra atualização é o natalizumabe ser indicado como primeira opção de tratamento para pacientes com EM-RR em alta atividade da doença, seja para os casos de falha ou restrição com as demais opções ofertadas, ou como primeira alternativa entre os medicamentos modificadores do curso da doença.

Fique alerta

Alguns sintomas são sinais de atenção para buscar atendimento com especialistas. Veja quando suspeitar de EM e procurar ajuda médica:

  • Alterações cognitivas;
  • Alterações emocionais;
  • Alterações sensoriais;
  • Desequilíbrio;
  • Dificuldade para articular a fala;
  • Dificuldade para engolir;
  • Disfunção da bexiga e/ou do intestino;
  • Disfunção sexual;
  • Distúrbios visuais;
  • Dor;
  • Fadiga;
  • Fraqueza muscular;
  • Rigidez.

Fonte da imagem: Freepik

Fonte: Ministério da Saúde



Deixe um comentário