- 13 de junho de 2017
- Posted by: Grupo IBES
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Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) avaliaram 31 clínicos por meio de exames de ressonância magnética funcional para descobrir o que acontece no cérebro dos médicos enquanto diagnosticam e prescrevem um tratamento com base em informações escritas.
O resultado detectou que durante as tarefas os mesmos circuitos neuronais usados por uma pessoa qualquer para nomear objetos e animais é ativado. O estudo foi publicado em maio na revista Scientific Reports, do grupo Nature.
“Também identificamos neste trabalho mecanismos que podem levar a uma conclusão diagnóstica prematura. Esse tipo de informação pode contribuir para o desenvolvimento de ferramentas capazes de reduzir esse tipo de erro na prática médica”, disse Marcio Melo, pesquisador do Laboratório de Informática Médica da FMUSP e primeiro autor do artigo.
Foram realizados dois experimentos com os participantes da pesquisa. O primeiro experimento baseou-se em um comparativo de como o cérebro reagia quando era apresentado um conjunto de sintomas por escrito onde o médico deveria identificar a doença a ele relacionada e como o cérebro reagia quando eram exibidos animais e objetos a serem nomeados (miau, animal doméstico e pelo preto, por exemplo, sugeririam se tratar de um gato).
No segundo experimento, as telas mostravam o nome de doenças e a tarefa consistia em prescrever o tratamento mais adequado.
Os experimentos foram realizados enquanto os participantes estavam dentro do equipamento de ressonância magnética. A medida em que as tarefas eram executadas, os dados e informações eram coletados pelo equipamento.
“Nossa análise mostra uma notável semelhança na atividade cortical durante as três tarefas – diagnóstico, prescrição e nomeação de objetos ou animais –, o que corrobora a nossa hipótese inicial”, disse Melo.
O estudo vai de encontro a resultados publicados pelo grupo na revista PLoS One no qual foi investigado o processo de diagnóstico no âmbito visual, porém no experimento anterior os participantes eram radiologistas que tinham a tarefa de diagnosticar lesões ou animais inseridos em radiografias do tórax. (Leia mais em: http://agencia.fapesp.br/14964/).
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Excesso de certeza pode ser ruim
Segundo o grupo da USP, o ato de tomar decisões para diagnosticar uma doença se inicia com uma grande incerteza e, conforme as evidências vão se acumulando, a confiança é atingida para decisão do médico.
As imagens de ressonância mostraram atividades intensa no sistema cerebral conhecido como rede atencional fronto-parietal (RAFP) quando as informações de diagnóstico eram inespecíficas, como por exemplo febre. O monitoramento atencional pela RAFP era reduzido quando a informação era fortemente associada a uma doença.
A conclusão desses dados supõe que a redução na incerteza estaria envolvida com a tomada de decisão.
“Nossas análises sugerem, portanto, que a tomada de decisão pode ocorrer de forma prematura caso o médico, logo de início, tenha contato com uma informação de alto poder diagnóstico. Um exame que indica uma baixa dosagem de tiroxina, por exemplo, poderia levar o médico a diagnosticar corretamente hipotireoidismo. A certeza diagnóstica, por outro lado, pode levar a uma interrupção prematura da investigação impedindo a detecção de uma depressão associada. A conclusão diagnóstica prematura é uma causa importante e frequente de erros médicos”, disse Melo.
Uma das forma de prevenir o diagnóstico prematuro, segundo o pesquisador Marcio Melo, é computadorizar em um sistema uma lista de opções diagnósticas que poderia ser acoplado ao prontuário eletrônico, por exemplo.
Outra conclusão importante do artigo é que, aparentemente, os médicos só tomam consciência de sua decisão quando começam a verbalizá-la.
Segundo Melo, as imagens revelaram uma “inesperada e dramática” mudança na atividade cerebral entre os períodos decisório e o início da vocalização das respostas. “No início da fala foi detectado um forte aumento de atividade em uma ampla rede de estruturas cerebrais envolvidas com a consciência e, concomitantemente, com áreas engajadas no monitoramento auditivo”, contou.
Esse achado, que ocorre em frações de segundo, só foi possível de ser detectado graças a uma nova metodologia desenvolvida pelo grupo da FMUSP, que permitiu aumentar a resolução temporal da análise dos dados de ressonância magnética funcional. No estudo, uma imagem composta pela superposição de 43 fatias do cérebro com cerca de 3 milímetros cada foi coletada a cada 2,3 segundos.
Os resultados, acrescentou, indicam que os médicos participantes do estudo necessitavam escutar as próprias respostas para tomar consciência das suas conclusões diagnósticas.
O artigo How doctors diagnose diseases and prescribe treatments: an fMRI study of diagnostic salience pode ser lido em: https://www.nature.com/articles/s41598-017-01482-0.