- 21 de abril de 2016
- Posted by: Grupo IBES
- Category: Segurança do Paciente
Um estudo prospectivo publicado recentemente no BMJ Quality and Safety concluiu que a dupla leitura de exames radiológicos produziu alterações clinicamente importantes para 14% dos laudos. Os resultados não foram significativamente diferentes em relação a um estudo anterior (Wu MZ, et al. CT in adults: systematic review and meta-analysis of interpretation discrepancy rates. Radiology 2014) que relatou 11,8% de taxa de discrepância total para tomografia computadorizada do abdômen e da pelve, sugerindo que alguma garantia de qualidade na interpretação radiológica pode ser justificada.
Cerca de 10% dos laudos foram classificados como intermediários, necessitando de controles adicionais ou uma mudança nas investigações ou prognóstico. 4% dos relatórios foram classificados importantes ou críticos, o que implica em mudanças no tratamento conservador ou invasivo do paciente.
A classificação das discrepâncias foi feita com base nas possíveis consequências clínicas, usando cirurgiões gastrointestinais experientes como avaliadores. O estudo pode aumentar a consciência entre os médicos das limitações da radiologia, e entre os radiologistas a respeito das discrepâncias que mais importam para os médicos e pacientes.
Sistemas de avaliação por pares, que são frequentemente utilizados para este fim, também são vulneráveis ao viés de seleção dos radiologistas de casos, que acabam tendo mais tempo para rever os casos. Uma relutância foi relatada a respeito de médicos que acabam por deixar de relatar eventos adversos devido ao risco de exposição ou constrangimento profissional, métodos de notificação onerosos, tempo necessário para a elaboração de relatórios, bem como a percepção da importação clínica dos relatos de eventos adversos e a falta de senso de propriedade no processo.
É possível que a discrepância do laudo seja descoberta com base em fatores clínicos, ou mesmo que a oportunidade de intervir seja desperdiçada. Revisões de laudos que acabam levando grande tempo (em geral, acima de 20 horas), mas para a maioria das conclusões a informação ainda será relevante e o tratamento do paciente ainda pode ser corrigido. Esta oportunidade para evitar dano ao paciente pode facilitar uma participação maior dos radiologistas, e pode também reduzir as preocupações com questões médico-legais.
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Mudanças clinicamente importantes foram feitas com mais freqüência para os exames de investigações urgentes. Isso pode ser atribuído a uma maior frequência de novas descobertas nesses exames ou para um ambiente de trabalho menos favorável dos radiologistas de plantão. Independentemente, vale a pena considerar especialmente os exames urgentes para esse processo de revisão e garantia da qualidade.
Os autores concluem que a taxa de 14% de alterações clinicamente importantes feitas durante dupla leitura sugere que algum processo de garantia de qualidade para a interpretação radiológica seja justificado.
FONTE: Lauritzen, P.M. et al. Radiologist-initiated double reading of abdominal CT: retrospective analysis of the clinical importance of changes to radiology reports. BMJ Qual Saf doi:10.1136/bmjqs-2015-004536