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Diretrizes do SBA quanto ao uso de adornos estéticos por pacientes cirúrgicos

Cílios postiços, apliques de cabelo, unhas postiças e piercings apresentam riscos significativos à segurança do paciente

Um aspecto frequentemente negligenciado na avaliação pré-anestésica é o uso de adornos estéticos, como: cílios postiços, apliques de cabelo, unhas postiças e piercings. Esses itens apresentam riscos significativos que podem comprometer a segurança do paciente e alterar a prática anestésica.

Com isso, a SBA – Sociedade Brasileira de Anestesiologia entendeu ser necessário o desenvolvimento de diretrizes clínicas e recomendações que orientem os anestesiologistas diante dessas situações e as potenciais complicações desses adornos estéticos ou cosméticos e sua interferência na prática anestésica e sobre as medidas preventivas a serem adotadas no ambiente cirúrgico, para mitigar os riscos.

 

Cílios postiços

Orientações aos anestesiologistas

1- Incluir na avaliação pré-operatória/anestésica perguntas sobre a presença de extensões de cílios em listas de verificação e questionários pré-operatórios, pois muitas vezes essa informação é negligenciada ou omitida devido ao desconhecimento de sua interferência com a prática anestésica.

2- Educação dos pacientes sobre os riscos oculares potenciais relacionados ao uso de extensões de cílios durante a anestesia como ceratite de exposição, abrasão de córnea, infecção, ignição, queimadura e remoção inadvertida dos cílios.

3- Idealmente, pela literatura científica, as extensões de cílios devem ser removidas antes da cirurgia.

4- Quando não é possível remover as extensões de cílios, sugerimos a realização de uma avaliação pré-operatória cuidadosa para verificar se o paciente possui reflexo de Bell* intacto e é capaz de fechar totalmente os olhos mesmo com a presença das extensões de cílios.

*O Reflexo de Bell é uma resposta involuntária dos olhos quando as pálpebras se fecham. Nesse reflexo, o globo ocular se move para cima e ligeiramente para fora, ajudando a proteger a córnea ao afastá-la da superfície frontal do olho. Ele é considerado uma resposta protetora natural, presente em cerca de 75% da população. Essa reação é particularmente útil em situações de irritação ocular ou risco de exposição da córnea, como durante o sono ou em anestesia geral em que os olhos podem não ficarem completamente fechados. A avaliação do Reflexo de Bell é importante para anestesistas, pois pode indicar se um paciente corre maior risco de desenvolver complicações corneanas durante procedimentos sob anestesia geral, especialmente se o paciente apresentar condições como o lagoftalmo que é a incapacidade de fechar completamente as pálpebras.

 

Leia mais: Principais Diretrizes de um Protocolo de Jejum em Anestesiologia

 

5- Durante a cirurgia, deve ser realizada a aplicação de um gel lubrificante à base de água sobre a superfície ocular para evitar ressecamento da córnea.

6- Colocação de uma almofada ocular macia e oval sobre a pálpebra, fixando-a com fita adesiva em posição horizontal (preferida) ou vertical, que vai desde a sobrancelha até o arco zigomático. Pode-se substituir a fita adesiva por biofilme (curativo transparente). Isso pode evitar que a fita adesiva entre em contato direto com os cílios, o que poderia causar a remoção não intencional deles. Outra opção, é a colocação de Outra opção, é a colocação de curativos oclusivos transparentes, de formato quadrado e tamanho suficiente para cobrir as pálpebras e a pele ao redor para garantir o fechamento completo das pálpebras e cobertura da córnea.

7- Realizar verificações oculares intraoperatórias periodicamente

8- Reavaliar em caso de mudanças na posição da cabeça ou do pescoço

9- No caso da RM, a recomendação é incluir na avaliação Pré-exame, questionamento sobre extensões de cílios ou apliques de cabelo e que estes sejam retirados antes do procedimento, além de implementar alertas no sistema de triagem para impedir a entrada de pessoas com esses cílios, incluindo membros da equipe, na sala do scanner. Essas precauções ajudariam a prevenir riscos associados ao deslocamento ou aquecimento dos cílios dentro do campo magnético, que podem comprometer tanto a segurança do paciente quanto a qualidade da imagem por produzirem artefato.

 

Apliques de Cabelo

Orientações aos anestesiologistas

1-Recomenda-se que profissionais de saúde incluam perguntas sobre extensões de cabelo e materiais metálicos em questionários de avaliação Pré-operatória

2- Envolver e conscientizar os pacientes através de medidas educativas sobre os riscos associados a esses adornos estéticos como úlcera de pressão occipital, queimaduras ao couro cabeludo devido ao uso do eletro cautério.

 

 

3- Caso esses adornos não sejam retirados, como em casos de cirurgias de emergência:

3.1 – Recomenda-se a utilização de coxins de proteção na região occipital para permitir o acolchoamento adicional dessa aérea, evitando úlceras de pressão.

3.2 Utilizar de preferência o bisturi elétrico bipolar; 3

.3 Se utilizar bisturi monopolar a placa de dispersão deve estar próxima ao local cirúrgico;

3.4. Se o procedimento cirúrgico for próximo ao implante utilizar Fio 2 abaixo de 25%.

3.5- Exame da área occipital deve ser realizado em intervalos regulares se a cirurgia for prolongada. Em casos de RNM, nos questionários apresentados aos pacientes antes do procedimento deve constar um questionamento direto sobre a presença de apliques de cabelo que tenham microesferas metálicas e estas devem ser retiradas das antes do procedimento para evitar deslocamentos, artefatos na imagem e risco de queimaduras.

 

Piercing

Orientações ao anestesiologista:

1- É recomendado que todos os piercings metálicos sejam removidos antes da cirurgia.

2- Caso o paciente se recuse, deve ser informado dos riscos e assinar um termo informando sua decisão.

3- Se a remoção não for possível devido à falta de pessoal treinado ou ferramentas adequadas para a remoção, os riscos podem ser reduzidos alterando-se a ferramenta eletro cirúrgica utilizada, como o bisturi bipolar no lugar do monopolar, ou colocando-se a placa de aterramento mais próxima ao sítio cirúrgico

4- Para aqueles pacientes com piercing recém-colocados, que temem fechamento do furo, peças inertes de plástico, como um cateter intravenoso, ou de quartzo podem ser colocadas no lugar durante o perioperatório, mantendo o trajeto aberto.

 

Unhas em gel

Atualmente, a principal implicação das unhas em gel no cenário perioperatório está no potencial de interferência com o oxímetro de pulso. As imprecisões na leitura do oxímetro variam conforme a marca do dispositivo e a cor do esmalte utilizado, sendo as principais cores problemáticas o azul-escuro (1,1% ± 3,5%), roxo (1,2% ± 2,6%) e preto (1,6% ± 3%) (26).

Essas imprecisões também sofrem influência do fabricante do oxímetro; por exemplo, esmaltes em gel na cor azul mostraram um aumento estatisticamente significativo nos valores de SpO₂ em comparação com a linha de base nos oxímetros da marca Masimo. Com o oxímetro Philips, os limites de concordância variaram de 2% para o esmalte rosa a 17% para o esmalte preto. Outros estudos relatam simplesmente uma subestimação de até 6% nos valores de SpO₂ devido ao uso de esmaltes. Em relação ao uso de unhas artificiais de acrílico, observou-se um viés de -1,1% com o oxímetro de pulso da Siemens, o que resultou em uma precisão reduzida ao utilizar unhas artificiais. No entanto, com o oxímetro Philips MP70, a saturação de oxigênio foi similar tanto com quanto sem unhas de acrílico.

É importante destacar que, embora a diferença seja pequena, houve um aumento no número de valores fora do intervalo de ±2% com unhas artificiais, sugerindo imprecisão.

Outra preocupação significativa com o uso de unhas artificiais é o risco de infecção quando utilizadas por profissionais de saúde. Estudos indicam que as unhas de gel podem reter bactérias, mesmo após uma lavagem adequada das mãos, aumentando o risco de infecções no local cirúrgico. Embora os estudos não tenham comprovado um aumento no número de bactérias em unhas de gel, destaca-se que a higienização é mais difícil nesse tipo de material.

Essas observações resultaram em recomendações da Sociedade de Epidemiologia em Saúde da América (SHEA), da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (IDSA) e da Associação de Profissionais em Controle de Infecção e Epidemiologia (APIC) em sua diretriz atualizada para prevenção de infecções associadas aos cuidados de saúde. As diretrizes recomendam que profissionais de saúde que atuam em áreas de alto risco (como UTI e ambientes perioperatórios) evitem o uso de unhas artificiais ou extensões.

Em relação ao uso de esmaltes (comum ou em gel), a decisão de proibição fica a critério do programa de prevenção de infecções da instituição, exceto para profissionais que manipulam o campo estéril durante procedimentos cirúrgicos, os quais não devem utilizar esmaltes ou unhas em gel. O próprio Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e a Joint Commission recomendam a remoção de unhas artificiais para minimizar esses riscos.

 

Fonte da imagem: Envato

Fonte: Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Nota Técnica sobre adornos estéticos Elaborada em 6 de novembro de 2024.



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