- 1 de dezembro de 2016
- Posted by: Grupo IBES
- Category: Segurança do Paciente
A pesquisadora Maria do Carmo Leal, coordenadora do estudo, alerta para as possíveis consequências. “A prematuridade se constitui no maior fator de risco para o recém-nascido adoecer e morrer não apenas imediatamente após o nascimento, mas também durante a infância e na vida adulta. Os prejuízos extrapolam o campo da saúde física e atinge as dimensões cognitivas e comportamentais, tornando esse problema um dos maiores desafios para a Saúde Pública contemporânea”, admite.
“A taxa de prematuridade no Brasil foi elevada, predominou entre os prematuros tardios, ocorreu na maioria das vezes de forma espontânea, mas apresenta alta frequência de início por intervenção médica, predominantemente por cesariana anteparto, com menos de 10% de indução do trabalho de parto. A prematuridade terapêutica esteve associada à assistência privada para o parto e à gravidez em idade mais avançada, condições características de populações que apresentam melhor nível de emprego formal, escolaridade e renda. Foi maior na Região Sudeste e mais frequente nas capitais, cidades que têm maior número de hospitais de referência para atendimento a mulheres e recém-nascidos de risco”, completa Maria do Carmo Leal.
Nascer no Brasil
Até 2012, o Brasil não dispunha de informação nacional sobre a taxa de prematuridade, pois o Sistema Nacional de Informação sobre Nascidos Vivos não apresentava dados confiáveis sobre esse indicador. Resultados da pesquisa Nascer no Brasil mostraram prevalência de 11,5%, entretanto desconhecia-se a relação entre as intervenções obstétricas no parto – especificamente as cesarianas e seus efeitos na taxa de prematuridade no país -, tampouco os impactos no comportamento temporal desse indicador.
O país tem a maior taxa de cesarianas do mundo, correspondendo atualmente a 56% dos partos e a quase 90% no setor privado, o que leva a supor que essas cirurgias estão sendo realizadas por motivos não clínicos. De acordo com os resultados da pesquisa, a cesariana foi realizada em 45% das mulheres de baixo risco, sem nenhuma complicação obstétrica e que, simultaneamente, tornaram-se mães de recém-nascidos saudáveis.
Lançamento dos novos resultados do Nascer no Brasil
Durante o evento, haverá o lançamento do suplemento (3) 2016;13 da revista Reproductive Health, cujos artigos descrevem o que acontece no Brasil em relação às práticas de atenção ao parto, suas consequências e ideias potenciais para intervenções que possam ajudar a mudar esse cenário. O editor científico da revista, José Belizan, e a pesquisadora Catherine Deneux-Tharaux, do Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (Inserm), Paris, estarão presentes no encontro.
Principais achados
- Altas taxas de cesariana, principalmente no setor privado (88%), mas também em serviços públicos (43%);
- Uso excessivo de intervenções obstétricas e baixo uso de boas práticas na atenção ao parto;
- Taxa de prematuridade no país de 11,5%, quase duas vezes superior à observada em países europeus, sendo 74% destes prematuros tardios (34 a 36 semanas gestacionais);
- Muitos casos de prematuridade tardia no Brasil podem ser decorrentes de uma prematuridade iatrogênica em mulheres com cesarianas agendadas, com avaliação incorreta da idade gestacional;
- Grupos de Robson 2 (primíparas com gestação única, a termo, cefálica com parto induzido ou cesariana eletiva), Grupo 5 (multípara com gestação única, a termo, cefálica com cesariana prévia) e Grupo 10 (gestação prematura em apresentação cefálica) respondem por mais de 70% das cesarianas no país, tanto em serviços públicos como privados;
- Falhas na organização dos serviços de atenção ao parto: 32,8% das mulheres com complicações na gravidez atendidas em serviços sem leitos de UTI;
- Baixa adequação (35%) dos serviços de atenção ao parto com financiamento público no Brasil.
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FONTE: Ministério da Saúde