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Indicação médica: tomar sol. Foi assim com a professora de inglês Lilian de Santana, de 41 anos, quando ela apresentou deficiência de vitamina D, que pode levar a osteopenia (diminuição do cálcio nos ossos). Lilian, então, deixou de encarar o sol como um vilão e passou a fazer um esforço para encaixar na rotina a exposição aos raios solares — por alguns minutos, “sempre que lembra”, em casa mesmo. “Uso uma pequena área externa enquanto tomo café da manhã e fico nas redes sociais. Brinco que estou tomando meu ‘sol na laje’”, conta. A aposentada Carmelita Correia, de 69 anos, foi diagnosticada com osteopenia e seu clínico geral também recomendou que tomasse sol todos os dias. “Passei a caminhar quinze minutos pela areia da praia de Copacabana de manhã cedo, com água salgada nos pés”, relata ela, que diz ter seguido à risca a orientação diariamente por um ano. “Fiquei recuperada. Tempos depois, sofri uma queda séria na rua mas não tive nenhuma fratura. Se estivesse com osteoporose, não sei se teria ficado bem”, comenta Carmelita, que ciente dos benefícios manteve o hábito e continua pegando sol na varanda de casa.
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A vitamina D é em sua maior parte (até 90%) sintetizada a partir da exposição da pele aos raios solares. Sua principal função é relacionada ao metabolismo ósseo. A deficiência pode levar a câncer, osteopenia, osteoporose e diabetes. Além do enfraquecimento dos ossos, a deficiência da vitamina também está associada à obesidade e diabetes, hipertensão arterial e outros problemas.
Há uma grande porcentagem da população com deficiência de vitamina D, que pode chegar a mais de 80% entre os idosos. A nutricionista Liane Murari Rocha, que defendeu em julho tese sobre o metabolismo da diabetes, concluiu que a baixa exposição ao sol é um dos fatores que se mostraram relacionados a problemas de saúde como obesidade e diabetes tipo 2, ao lado de poucas horas de sono ou de sono de má qualidade.
A pesquisa “Relação entre padrões de sono, concentrações de vitamina D, obesidade e resistência à insulina”, realizada com voluntários que visitaram os ambulatórios de Obesidade e Diabetes do Hospital de Clínicas e o Centro de Saúde da Comunidade da Universidade de Campinas (Unicamp), reforça o que a literatura científica já sugeria. Atualmente, a deficiência ou a insuficiência de vitamina D é considerada um importante problema de saúde pública com implicações no desenvolvimento de diversas doenças.

MUDANÇA DE HÁBITO

O Brasil é um país tropical, em que os dias ensolarados são regra e não exceção. No entanto, nem todos conseguem aproveitar os benefícios do sol para a saúde. No estudo, Liane percebeu dificuldades para que as pessoas incorporem o hábito de tomar sol. “Acontece de saírem de casa muito cedo para trabalhar e só voltarem à noite. E o lazer é interno, dentro de shopping centers, por exemplo”.
Enquanto alguns não saem ao sol porque não têm tempo, outros se recusam. “Na minha pesquisa, apareceu que as pessoas não querem tomar sol. Muitos dos meus pacientes reclamam que o sol é muito forte. Os idosos, principalmente, dizem que é muito pior do que antigamente”. E até os padrões estéticos da sociedade também surgiram nos relatos à nutricionista quando recomendava que a pele fosse deixada à mostra. “As pessoas obesas têm, muitas vezes, dificuldade de se expor, por se sentirem constrangidas”.
Para Liane, é importante incentivar mudanças de hábitos. “Muitos querem resolver os problemas com potinhos de suplemento. Para algumas situações, há necessidade, para outras, não”. Segundo a nutricionista, que esteve recentemente em um congresso de endocrinologia, existe preocupação entre os médicos com a suplementação excessiva. Ela relata que há evidências sugerindo que, em excesso, a vitamina D provoca mineralização e problemas renais.
Outra fonte de vitamina D, responsável pelo suprimento de cerca de 20% da dose necessária para o bom funcionamento do organismo, vem da alimentação. “Manter um estado nutricional adequado de vitamina D não é tão fácil. A principal fonte proveniente da dieta, o peixe, não é de consumo tão frequente na população em geral”, observa Maria Eduarda Melo, nutricionista do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Ela lembra que pessoas idosas têm menores quantidades na pele do precursor da vitamina D, e, além disso, costumam se expor menos ao sol.
“No Brasil até há pouco tempo não se discutia a inadequação do suprimento de vitamina D”, alerta a médica. Ela confirma que a população em geral está com níveis abaixo do adequado: “Só temos hipóteses para explicar isso. Uma seria pelo uso intensivo de filtro solar. Outra questão que vem sendo levantada é sobre o ponto de corte para se estabelecer o que é insuficiência. É cada vez mais difícil definir esses valores”.
Maria Eduarda apontou que não existe uma “dose” de sol exata para recomendar para as pessoas. “Não existe consenso na literatura sobre o tempo exato recomendado. Alguns estudos falam em de 10 a 20 minutos por dia. Não adianta ficar exposto por horas e nem precisa ser o corpo inteiro”, esclarece.

SAÚDE MENTAL

O psiquiatra Leandro Franco lembra que a luz solar tem interferência no humor das pessoas. Por isso, nos países nórdicos, onde durante os meses de inverno os dias são muito curtos, acontece a chamada depressão sazonal. “Os estudos sugerem que a luminosidade afeta a expressão de receptores nos neurônios para neurotransmissores ligados ao bem estar”.
Outro psiquiatra, Jone Chebom, também liga o sol à alegria. Ele indica a exposição a todos os seus pacientes, não só os que têm depressão. Uma boa caminhada ao ar livre, no sol da manhã, de preferência, é sua recomendação. “O sol participa no mecanismo do bem estar e faz a pessoa se sentir mais viva”, afirma ele, que, por atender no Rio de Janeiro, também orienta ir à praia — exatamente como fez Dona Carmelita para combater sua osteopenia.

FILTRO SOLAR

A radiação do sol pode ainda tratar muitos problemas de pele, como por exemplo a psoríase. A dermatite seborreica, popularmente conhecida como caspa, tende a melhorar no verão. A micose RADIS fungoide, um tipo de linfoma cutâneo, tem como opção terapêutica a fototerapia — numa câmara de luz, as lesões da pele são irradiadas com ultravioleta A ou B, apresentando bons resultados em alguns casos. Esses mesmos raios ultravioleta são os vilões do câncer de pele. “É o mesmo sol que causa câncer”, ressalta Liane.
Pela gravidade da doença e pela alta incidência no país, os dermatologistas em geral são taxativos: nunca deixar de usar o filtro solar. “Sempre com fotoproteção”, recomenda a médica Caroline Assed Saad, assessora da Diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Independentemente de como está o tempo — nublado, chovendo —, todas as áreas expostas devem ser protegidas com filtro solar, e esse deve ser reaplicado a cada três horas”. Na praia e na piscina, segundo Caroline, métodos de barreira devem ser usados, como chapéus, guarda sol e óculos, e o filtro solar deve ser reaplicado mais rigorosamente, a cada mergulho ou após transpiração intensa. Os horários de maior incidência da radiação ultravioleta, como depois das dez da manhã até quatro horas da tarde, devem ser evitados.
FONTE: FIOCRUZ