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Transplantes e HIV: Alerta Após a Contaminação de 06 Pacientes no Rio de Janeiro

Incidentes deste tipo são raros, mas causam um impacto duradouro nos sistemas de saúde.

Os casos de contaminação de receptores de órgãos por doadores HIV positivos representam um grave problema de saúde pública, embora sejam extramente raros. No entanto, quando ocorrem, levantam preocupações significativas sobre os procedimentos de triagem e segurança nos transplantes.

 

Casos raros, documentados ao longo das últimas décadas mostram que, em várias ocasiões, a transmissão do vírus HIV ocorreu de forma inadvertida, mesmo com os avanços nas técnicas de triagem e testes sorológicos. Estudos e relatos de diferentes partes do mundo indicam que esses incidentes tendem a ser esporádicos, mas causam um impacto duradouro nos sistemas de saúde.

 

Um dos primeiros relatos documentados de transmissão de HIV durante transplante ocorreu em 1986, quando um receptor de um rim contraiu o vírus após receber o órgão de um doador cuja infecção pelo HIV não havia sido detectada (Collins et al., 1986). Ao longo dos anos, surgiram outros casos semelhantes em países como Estados Unidos, Alemanha e França, o que levou à implementação de protocolos mais rigorosos para evitar que receptores fossem infectados. Esses protocolos incluem a realização de múltiplos testes de HIV nos doadores, além de medidas de segurança adicionais, como o uso de técnicas de detecção mais sensíveis.

 

Na semana passada, no Rio de Janeiro, um caso grave de contaminação envolvendo seis pacientes receptores de órgãos chamou a atenção da comunidade médica. Esses pacientes receberam órgãos de doadores que, inadvertidamente, estavam infectados pelo HIV. Embora detalhes completos sobre a origem do erro ainda estejam sendo investigados, fontes preliminares sugerem que houve falha nos testes de triagem realizados antes dos transplantes. O ocorrido gerou comoção e tende a gerar uma revisão profunda dos protocolos seguidos pelas equipes de transplante na cidade, com o objetivo de prevenir futuros incidentes.

 

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Os seis pacientes infectados no Rio de Janeiro representam um dos maiores surtos de contaminação por HIV via transplantes já registrados no Brasil. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, todos os pacientes foram rapidamente colocados em tratamento antirretroviral para controlar o avanço do vírus. No entanto, a contaminação colocou em evidência a fragilidade dos sistemas de triagem e controle de infecções nos transplantes de órgãos o Estado. A imprensa local relatou que os doadores foram submetidos a testes antes dos transplantes, mas os resultados negativos para HIV levaram à liberação dos órgãos (Jornal O Globo, 2024).

 

Casos anteriores de transmissão de HIV por transplantes foram associados a períodos de janela imunológica, quando o vírus ainda não é detectável pelos testes convencionais de HIV. A janela imunológica, que pode durar semanas, apresenta um desafio significativo para os sistemas de transplante, pois, apesar de todas as precauções, o risco de transmissão não pode ser completamente eliminado. No caso dos seis pacientes do Rio de Janeiro, as autoridades de saúde estão reavaliando se houve falhas nos testes realizados ou se outros fatores podem ter contribuído para o diagnóstico incorreto.

 

 

Um estudo publicado por Ison et al. (2011) destacou que a transmissão de HIV via transplante de órgãos, apesar de rara, ainda é possível. O artigo sugere que, mesmo em países com alta vigilância e controle, o risco não é zero, e erros podem ocorrer devido à complexidade dos sistemas de transplante e dos períodos de janela imunológica. Esse tipo de contaminação reforça a necessidade de protocolos mais sofisticados e, possivelmente, de novas tecnologias que possam detectar infecções de forma mais precoce e precisa.

 

Testes mais sensíveis para HIV, como o NAT (teste de amplificação de ácidos nucleicos), pode detectar a presença do vírus em estágios iniciais da infecção. Embora mais caro e não amplamente utilizado em todos os sistemas de saúde, o NAT poderia ser uma medida adicional para evitar a repetição de incidentes como o de outubro de 2024.

 

Em suma, os casos de transmissão de HIV por doadores de órgãos são eventos raros, mas devastadores. O incidente no Rio de Janeiro em 2024 reitera a importância de revisões constantes nos protocolos de transplante, além do desenvolvimento de novas tecnologias de detecção. Este caso não só alerta o Brasil, mas também toda a comunidade médica global para os riscos e a necessidade de vigilância contínua no processo de doação de órgãos.

 

CFM

O Conselho Federal de Medicina (CFM) cobrou das autoridades públicas “a máxima transparência e celeridade na condução das investigações” dos seis pacientes que foram contaminados pelo vírus HIV após receberem órgãos transplantados no Rio de Janeiro. A autarquia pede a responsabilização dos indivíduos, empresas e órgãos públicos pelos danos causados. A cobrança foi feita em nota pública, acessada AQUI.

 

O CFM manifesta sua preocupação com a gravidade do fato e cobra que os laboratórios de análises clínicas, especialmente os que prestam serviços ao Sistema Único de Saúde, “sejam alvos de fiscalização ostensiva da Vigilância Sanitária, com a cobrança de efetivo cumprimento de critérios e protocolos adequados ao seu funcionamento”. O CFM defende que caberá ao Ministério da Saúde assumir sua missão e apresentar respostas para que não seja comprometida “a credibilidade no funcionamento do sistema nacional de transplantes de órgãos em todo o País”.

 

Fonte da imagem: Envato

Referências:

Collins, G., Posch, J., Israel, E., & Jordan, H. (1986). Transmission of human immunodeficiency virus by organ donation. *New England Journal of Medicine*, 314(18), 1163-1164.
– Ison, M.G., & Nalesnik, M.A. (2011). An update on donor-derived disease transmission in organ transplantation. *American Journal of Transplantation*, 11(6), 1123-1130.
– Jornal O Globo. (2024). Seis pacientes infectados por HIV após transplantes no Rio de Janeiro.
CFM.



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