- 3 de dezembro de 2020
- Posted by: Grupo IBES
- Category: Notícias
O tratamento para o controle da asma exige conhecimento sobre a doença pelos pacientes, familiares, cuidadores e profissionais da saúde. E o uso diário, contínuo e correto dos dispositivos inalatórios, as chamadas bombinhas, é essencial neste processo. A enfermidade estreita os brônquios, que são canais que levam ar aos pulmões. Isso dificulta a passagem do ar e provoca contrações ou broncoespasmos. Essas crises afetam a respiração. Os dispositivos inalatórios ajudam a aliviar essa condição e auxiliam no controle da asma. Mas, muitos pacientes não usam esses aparelhos corretamente. O resultado disso é o descontrole da doença e os eventos adversos, ou seja, os efeitos indesejados. É o que ressalta a farmacêutica clínica Juliana Soprani, do Instituto de Cadiopneumologia (Incor).
“A maioria dos pacientes esquece de soltar o ar antes de fazer a inalação, então quando ele vai puxar o ar para fazer a inalação ele não tem espaço suficiente no pulmão pra ter essa força de inalação. Então esse é um erro importante que dificulta tanto a utilização desse dispositivo quanto do sucesso da terapia. Um segundo erro também bastante comum é que os pacientes não seguem a recomendado de, ao fazerem a inalação, segurar o ar por pelo menos 10 segundos. Porque quando ele faz isso dá tempo suficiente para que aquele medicamento chegue o mais profundo possível no pulmão.”
A farmacêutica também aponta outros erros comuns cometidos pelos pacientes, como não fazer a lavagem da boca após o uso do inalador. Ela explica que alguns dispositivos possuem corticoide em sua formulação, o que pode causar efeitos indesejados se o paciente pular a etapa de higienização.
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“Quando o paciente faz a inalação parte daquele aerossol que ele inalou fica retido na boca e na garganta. E aquele corticoide que ficou ali retido tem o potencial de mudar o PH da boca e pode causar sapinho ou candidíase oral, que é uma doença é causada por um fungo. Quando se modifica o PH da boca se facilita para que esse fungo se instale aí. Então toda vez que o paciente fizer uma inalação com um medicamento que tem corticoide na sua composição ele precisa enxaguar muito bem a boca, fazer gargarejo e cuspir essa água. Além do sapinho tem algumas bombinhas que, se o paciente não faz o enxague, podem causar tosse e rouquidão.”
Mitos
Usar bombinha pra asma engorda e causa problema no coração. Quem tem asma certamente vai ser um paciente grave de Covid. Bronquite não tem nada a ver com asma. Depois de controlada a crise, não precisa mais usar bombinha. Certo? Errado! Muitas dessas afirmações são mitos e podem confundir o paciente. Juliana Soprani lembra que a asma é uma doença inflamatória crônica, não tem cura, mas tem controle, se o medicamento for usado de forma contínua, diária e corretamente, conforme prescrição de um pneumologista e orientação do farmacêutico. Para ela, a maior dificuldade é a compreensão da doença pelo paciente. Muitos acabam abandonando o tratamento após passar por um momento de crise.
A farmacêutica explica que existe um tratamento para a crise e outro para o controle diário da asma. O objetivo do tratamento de controle diário é controlar a inflamação e impedir que sua piora desencadeie as crises e os sintomas da Asma. Para este tratamento o padrão ouro é utilizar o corticoide inalatorio. Já o tratamento das crises é pontual e tem como objetivo aliviar os sintomas da Asma, especialmente a falta de ar, utilizando-se um broncodilatador. Na nova atualização da diretriz da GINA (Global Iniciativa para o controle da Asma) ela recomenda que mesmo nas crises, quando o paciente precisa utilizar um broncodilatador, como o salbutamol, é ideal que ele também associe o corticoide inalatorio. Essa associação também nas crises tem demonstrado um maior controle dos pacientes.
Quanto ao temor de o medicamento pode engordar, ela explica que os corticóides inalatório e nasal não contribuem para o aumento de peso, até mesmo porque a dose dessa substância presente nesses dispositivos é muito pequena e age de forma local. Muita gente também deixa de fazer o controle frequente porque já ouviu falar que as chamadas bombinhas podem causar problema no coração. A especialista esclarece que não é bem assim.
“Sabemos que alguns broncodilatadores podem causar taquicardia. Tem paciente que relata aceleração dos batimentos cardíacos. Isso geralmente acontece nas primeiras utilizações ou quando o paciente utiliza uma dose um pouco maior do que ele está acostumado. Isso é uma reação esperada. Mas essa reação tende a passar conforme ele vai utilizando e se sensibilizando com o medicamento. Antes as pessoas falavam que a bombinha dava parada cardíaca. Isso é um grande tabu, como diria hoje, “fake news”. E por essa razão todo medicamento deve ser utilizado por meio de uma prescrição médica e a orientação e acompanhamento de um farmacêutico. Caso o paciente tenha uma doença cardíaca de base ele deve ter um acompanhamento em conjunto com um médico cardiologista e pneumologista para a escolha do medicamento mais apropriado e que minimize interações medicamentosas e reações indesejadas.”
Quem tem asma certamente vai evoluir para caso grave de Covid? Segundo Juliana, no início da pandemia, acreditava-se que sim. Mas, depois ao acompanhar esses pacientes, percebeu-se que essa não é bem a realidade. Mesmo assim, a orientação é manter os cuidados necessários diante dos poucos dados existentes sobre o assunto.
“Havia uma expectativa muito grande de que esses pacientes poderiam ser os pacientes com Covid mais graves. E por alguma razão que não conhecemos ainda, não foi. Tivemos poucas complicações com pacientes asmáticos. Não estou dizendo que não teve nenhum asmático que não ficou grave, não é isso, mas a expectativa era de uma Covid mais grave e não foi isso que aconteceu. Então foi feito um plano de ação de atendimento a distancia dos pacientes orientando também pra tomar todos cuidados, evitar sair de casa, utilizar máscara, uso de álcool em gel, desinfetar compras de mercado, evitar aglomeração e o contato com outras pessoas que não moram na residência, e manter o tratamento de controle.”
Juliana Soprani atua como farmacêutica clínica na Unidade de Terapia Intensiva do Incor. Lá ela e uma equipe interdisciplinar desenvolvem uma pesquisa sobre asma. A especialista também atuou no Hospital Santa Paula, em São Paulo, onde contribuiu na implementação de protocolos para doenças respiratórias. É professora na pós-graduação de Farmácia Clínica, Hospitalar e Atenção Farmacêutica do Instituto Racine.
O Instituto do Coração também apresenta em seu site vídeos explicativos sobre o assunto. Confira aqui!
Acesse ainda a live da farmacêutica Juliana Soprani em Webinar da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar
Quem quiser saber mais sobre o uso de dispositivos inalatórios, o Conselho Federal de Farmácia disponibiliza em sua página uma série de folders sobre o assunto:
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Fonte da notícia: CFF