- 4 de maio de 2017
- Posted by: Grupo IBES
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“Esta notícia baseada em informações da informação do site da Aleitamento (http://aleitamento.com/). Não nos responsabilizamos pelo conteúdo da notícia.”
O Departamento Científico de Aleitamento da Sociedade Brasileira de Pediatria acaba de publicar um excelente documento que reúne argumentos sobre a duração da amamentação; evidencias que embasam o aleitamento continuado: morbimortalidade por infecções, desenvolvimento orofacial e cognitivo, sobrepeso/obesidade, saúde materna; Cenário atual; Fatores que facilitam e obstaculizam o aleitamento. E conclui refletindo sobre o papel do Pediatra nesse cenário. Agradecemos e parabenizamos os componentes do Departamento Científico de Aleitamento:
Presidente: Elsa Regina Justo Giugliani
Secretária: Graciete Oliveira Vieira
Conselho Científico:
Carmen Lúcia Leal Ferreira Elias, Claudete Teixeira Krause Closs, Roberto Mário da Silveira Issler, Rosa Maria Negri Rodrigues Alves, Rossiclei de Souza Pinheiro, Vilneide Maria Santos Braga Diégues Serva
Recomendação quanto à duração do aleitamento materno
A recomendação internacional de duração do aleitamento materno (AM) é de dois anos ou mais (1), sendo exclusivo até os 6 meses de idade e, a partir de então, complementado com outros alimentos. Portanto, não há um limite máximo estabelecido. Apesar disso, muitas pessoas se espantam ao ver uma criança mamando no segundo ano de vida e alguns profissionais chegam a sugerir o desmame (aqui definido como término da amamentação) por considerar a criança “grande” para mamar. Essa recomendação fundamenta-se em algumas teorias. Uma delas, baseada em informações de primatas não humanos, sobretudo gorilas e chimpanzés, conclui que a amamentação para a espécie humana teria duração entre 2,5 e 7 anos (2). Já, extensa revisão de informações coletadas em sociedades primitivas modernas, referências em textos antigos e evidências bioquímicas de sociedades pré-históricas sugere que a duração da amamentação na espécie humana seria, em média, de 2 a 3 anos, idade em que costuma ocorrer, de forma natural, o desmame (3). Além disso, avolumam-se as evidências científicas sobre o impacto positivo do AM “prolongado” na saúde da criança e da mulher que amamenta, e tem sido possível, para alguns desfechos, quantificar o efeito positivo para cada mês ou ano de amamentação, como abordado a seguir.
Evidências científicas que embasam a recomendação de aleitamento materno continuado
- Mortalidade e morbidade por doença infecciosa
- Desenvolvimento orofacial
- Sobrepeso/obesidade
- Desenvolvimento cognitivo
- Saúde materna
- Fator econômico
Cenário atual do aleitamento materno continuado
Apesar da ampla divulgação do valor incomparável da amamentação e da recomendação quanto à sua duração, muitas crianças não são amamentadas ou o são por período muito curto. Em nível global, o AM continuado é mais comum nos países de baixa e média renda. Nos países mais pobres, a amamentação continuada por 12 meses e 24 meses é maior que 90% e 60%, respectivamente; enquanto que na maioria dos países ricos, nem 20% das crianças são amamentadas até um ano de idade (4). No Brasil, houve considerável expansão do AM continuado por 12 meses desde a década de 1980, passando de 22,7% em 1986 para 47,2% em 200621. O último inquérito de âmbito nacional, a Pesquisa Nacional de Saúde (22), data de 2013. Segundo essa pesquisa, o indicador AM continuado aos 12 meses encontra-se estagnado, em torno de 45%. Já, o AM continuado por 2 anos, que praticamente manteve-se inalterado entre 1986 e 2006 – um pouco abaixo de 25%, aumentou nos últimos anos, subindo para 32%. Diante deste cenário, fica evidente a necessidade de se atuar na promoção, proteção e apoio ao AM, sendo fundamental o engajamento dos profissionais de saúde, em especial dos pediatras, no movimento de resgate do AM como norma para a alimentação das crianças nos primeiros dois anos de vida. Para isso, é preciso conhecer os fatores que podem facilitar ou dificultar o prolongamento da amamentação até os dois anos ou mais, abordados a seguir.
Fatores que facilitam ou servem de obstáculos ao aleitamento materno continuado
- Crenças
- Cultura da mamadeira /estilo de vida
- Uso de chupeta
- Trabalho materno
- Apoio do marido/familiares
Por quanto tempo o aleitamento materno pode se estender?
Não há uma resposta simples para esta pergunta, haja vista não haver um limite máximo na recomendação internacional de duração da amamentação. O desmame natural, definido como um processo em que a criança gradualmente se auto desmama, costuma ocorrer, em média, entre 2 e 4 anos de idade. A mãe tem participação ativa no processo, identificando os sinais que indicam que a criança está ficando madura para o desmame, sugerindo passos e impondo limites de acordo com a “maturidade” da criança. A orientação dos pais pelos profissionais de saúde favorece uma postura tranquila, indispensável para a independização progressiva da criança. É relevante salientar que mais importante que a idade da criança, são os sinais indicativos de que a criança está apta para enfrentar o desafio do desmame. São alguns deles (41):
- Idade maior que um ano, • Menos interesse nas mamadas, • Aceita alimentos diversos, • Mostra-se segura na relação com a mãe, • Consola-se com outras formas de consolo, além do peito, • Aceita limites quanto à amamentação em determinadas circunstâncias e locais, • Por vezes dorme sem mamar, • Mostra pouca ansiedade quando encorajada a não mamar, • Às vezes prefere outras atividades com a mãe em vez de mamar.
Muitas vezes o AM é interrompido apesar do desejo da mãe e da criança em mantê-lo. As razões mais frequentes para isso são: percepção da mãe de leite “fraco” ou insuficiente, criança recusa o peito, trabalho fora do lar, problemas da mama e pressão de outros para desmamar. Muitos desses problemas podem ser evitados ou adequadamente conduzidos com o apoio do profissional de saúde, por meio de informação e orientação adequadas. O desmame abrupto deve ser desestimulado, pois pode trazer repercussões negativas para a criança, como sentimento de rejeição, gerando insegurança e rebeldia; e para a mãe, como ingurgitamento mamário, estase do leite e mastite, além de tristeza ou depressão, culpa e luto pela perda da amamentação.
Considerações finais
Atualmente, em especial nas sociedades ocidentais, o AM é considerado apenas uma forma de alimentar a criança, sob o controle dos adultos. Assim, perdeu-se a percepção da amamentação como um processo mais amplo, envolvendo intimamente duas pessoas e com repercussão na saúde física e psíquica de ambas. Perdeu-se a noção de que o desmame é um processo evolutivo, assim como sentar, andar, correr, falar. Nesta lógica, quando a criança é desmamada antes de atingir a maturidade para tal, corre o risco de ter o seu desenvolvimento emocional afetado. Cabe aos profissionais de saúde, sobretudo aos pediatras, promoverem, protegerem e apoiarem as mães/bebês/famílias a praticarem a amamentação continuada até o desmame natural, se assim for o seu desejo. Este é um desafio que deve ser enfrentado com conhecimento, atitudes positivas e habilidades, como a de saber ouvir as mães, as crianças e as famílias, estando atento às suas necessidades.
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