- 22 de fevereiro de 2016
- Posted by: Grupo IBES
- Category: Segurança do Paciente
A assistência à saúde nos EUA não é segura. 1 em cada 4 pacientes admitidos em um hospital vai sofrer algum tipo de dano não intencional, 1 em cada 6 vai ter uma infecção e cerca de 500 vão morrer diariamente por um erro evitável. A assistência à saúde é considerada uma atividade mais perigosa do que a mineração de carvão ou a construção de arranha-céus. No dia de hoje ocorreu uma conferência organizada pelo Johns Hopkins para a Segurança do Paciente e Qualidade irá explorar essas idéias, junto a um dos maiores nomes no assunto, Dr. Peter Pronovost. A conferência examinou exemplos de estratégias de “alta confiabilidade” usados na fabricação, transporte e outras indústrias. Um setor que Pronovost acha digno de atenção especial é a energia nuclear, uma indústria em que a segurança é primordial.
Após o acidente de Chernobyl, em 1989, as líderes de cada reator nuclear comercial em todo o mundo criaram a Associação Mundial de Operadores Nucleares (WANO), com o objetivo de alcançar a excelência em toda a indústria. WANO envia equipes de avaliadores para observar as operações e garantir a segurança em cada usina de energia nuclear comercial no mundo. Riccardo Chiarelli, gerente sênior do programa WANO, explicou: “Se acontece um acidente em uma usina nuclear no Japão, as indústrias nucleares nos EUA e em outros lugares serão impactadas. Se quisermos ter sucesso como uma indústria, precisamos ter certeza de que todos mantém o mais alto nível de excelência. Não podemos permitir baixo desempenho em qualquer lugar do mundo”.
LIÇÃO 1. Liderança e responsabilidade são indissociáveis
Os operadores nucleares colocam ênfase na liderança em todos os níveis, insistindo que a liderança deve “tratar a segurança como a mais alta prioridade.” Esta é uma qualidade que procuramos em sistemas de saúde também. A liderança deve assumir a responsabilidade. Quando algo dá errado, é necessário analisar os fatores subjacentes que levaram ao erro e ser responsável por aquilo quea conteceu.
LIÇÃO 2. Concentre-se nos resultados
Os revisores da WANO não chegam a uma planta com uma lista interminável de processos que devem ser verificados em cada departamento, como os auditores governamentais e as equipes de acreditação em saúde costumam fazer. Os revisores trabalham a partir de um livro chamado “Objetivos e Critérios de Desempenho”. “Você pode organizar sua planta como quiser, de acordo com a sua cultura, seu idioma, o seu povo, desde que obtenha resultados. Há uma exigência em se colocar a segurança como uma prioridade e treinar o seu pessoal para o nível mais alto possível. É nossa única exigência. Nós não verificamos os sistemas e processos”, explica Chiarelli. O foco pesado da Saúde sobre a verificação de processos leva ao esgotamento, assim como profissionais de saúde dedicados gastam enormes quantidades de tempo em cumprir tarefas e menos tempo de conexão com o seu trabalho diretamente ligado à saúde do paciente.
LIÇÃO 3. Quando os trabalhadores falam, a liderança escuta
Os operadores nucleares entram em acordo sobre um conjunto de princípios para a cultura de segurança dentro de uma usina de energia. Os revisores em particular voltam-se para dois aspectos. Em primeiro lugar, “cada indivíduo deve ser livre para levantar preocupações e problemas sem medo de retaliação.” Este medo de falar foi considerado uma das causas do acidente de Chernobyl. É também um problema bem pesquisado para a segurança nos hospitais. O segundo princípio fundamental é que quando os funcionários relatam problemas, esses problemas são prontamente corrigidos. Em inspeções, os revisores verificam se os funcionários relataram problemas através do banco de dados do sistema, e se eles não estão relatando, é questionado por que não. “Tudo é registrado. Se eu encontrar uma porta que está quebrada, eu vou registrá-la. Um alarme falso, eu vou registrá-lo”, diz Chiarelli. “Se nós encontramos uma questão de repetição, isso seria elevado como um problema principal no nosso relatório e compartilhado com o gerente da estação.” É evidente que, mesmo relativamente pequenos problemas devem ser relatados e corrigidos. Neste momento da conferência, os membros de saúde deram o exemplo da cacofonia de alarmes e campainhas que soam constantemente nas UTIs. Muitos deles são falsos alarmes, e as enfermeiras e os médicos devem aprender a interpretar qual sinaliza a verdadeira emergência. Chiarelli disse que em sua indústria, cada vez que um falso alarme dispara, espera-se que o trabalhador o denuncie, e a liderança é responsabilizada para a correção rápida. Muitos médicos acham difícil imaginar relatar cada alerta falso em uma UTI, e poderia pensar nisso como um exercício inútil. Mas Chiarelli aponta que o sentimento de inutilidade é por si só um problema de segurança. Quando os funcionários não sentem que a liderança vai responder, os problemas apodrecem e a liderança envia uma mensagem implícita de que a segurança não é a prioridade.
LIÇÃO 4. Não há incidentes isolados
Para a indústria nuclear, cada incidente, quer se trate de uma falha de comunicação entre os chefes de departamento (um dos problemas mais comuns) ou um erro, requer uma análise para explicar como o sistema poderia ter evitado isso. A Liderança é trazida a discutir as falhas do sistema e como corrigi-las. Na área da saúde, falhas do sistema e falhas de comunicação são tão comuns que apenas uma pequena parte deles são levados ao conhecimento da liderança e muitas vezes nem são foco de uma análise de causa raiz. No entanto, em muitos aspectos, até mesmo pequenos erros têm a chave para danos graves.
LIÇÃO 5. Aspire ser perfeito
Cada país tem seu próprio conjunto de regulamentos que regem as operações nucleares, e alguns são mais rigorosos do que outros. A WANO pretende empurrar a indústria muito além de conformidade com as normas básicas para a excelência de alto desempenho. “O objetivo é para que todos possam ter sucesso.
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FONTE: Binder, L. Five Lessons Healthcare Leaders Are Learning From An Unlikely Source: Nuclear Power. Forbes Pharma & Healthcare